Tontura Constante: O Que Pode Ser e Como Buscar Ajuda

Sentir tontura ocasionalmente é uma experiência comum, mas quando ela se torna uma companheira constante, a preocupação naturalmente se instala. A tontura constante não é uma doença em si, mas um sintoma, um sinal do corpo de que algo não está em equilíbrio. Como especialista na área, posso afirmar que investigar a origem desse desconforto é crucial para garantir sua saúde e bem-estar.
Neste artigo, vamos desvendar as possíveis causas da tontura persistente, diferenciar termos frequentemente confundidos e orientar sobre quando e como buscar ajuda médica.
Tontura vs. Vertigem vs. Labirintite: Entendendo as Diferenças
É fundamental esclarecer esses termos, pois eles são frequentemente usados como sinônimos, mas representam conceitos distintos:
- Tontura: É um termo amplo que descreve uma sensação de instabilidade, desequilíbrio, leveza na cabeça ou sensação de que se vai desmaiar. Não envolve necessariamente movimento.
- Vertigem: É um tipo específico de tontura, caracterizado por uma falsa percepção de movimento. A pessoa sente que ela própria ou o ambiente ao seu redor está girando, balançando ou se movendo. Geralmente está associada a problemas no sistema vestibular (ouvido interno ou nervo vestibular).
- Labirintite: É uma doença, ou melhor, uma inflamação do labirinto (estrutura do ouvido interno responsável pelo equilíbrio e audição). Ela pode causar vertigem e tontura, mas nem toda tontura é labirintite. É uma das muitas causas possíveis.
Principais Causas da Tontura Constante
A tontura constante pode ter origens diversas, variando de problemas simples a condições mais complexas que exigem atenção médica. Abaixo, detalho as categorias mais comuns:
1. Distúrbios do Ouvido Interno (Vestibulares)
O ouvido interno, ou labirinto, é o principal responsável pelo nosso senso de equilíbrio. Problemas nesta região são causas frequentes de tontura e vertigem.
- Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB): Conhecida como "labirintite dos cristais", ocorre quando pequenos cristais de cálcio (otólitos) se deslocam para os canais semicirculares do ouvido interno, causando vertigem intensa e breve com movimentos específicos da cabeça.
- Doença de Ménière: Caracterizada por crises súbitas de vertigem, zumbido, perda auditiva flutuante e sensação de pressão no ouvido. É causada por um acúmulo excessivo de fluido no ouvido interno.
- Neurite Vestibular e Labirintite: A neurite é a inflamação do nervo vestibular, frequentemente de origem viral, causando vertigem intensa e desequilíbrio por dias ou semanas. A labirintite é uma inflamação mais geral do labirinto.
- Tontura Postural Perceptual Persistente (TPPP): É uma tontura crônica (dura três meses ou mais) que piora em ambientes com muitos estímulos visuais, em pé ou durante o movimento.
2. Problemas Cardiovasculares
- Hipotensão Ortostática: Queda brusca da pressão arterial ao levantar-se rapidamente, resultando em tontura e, por vezes, vista turva ou pré-síncope (quase desmaio).
- Arritmias Cardíacas: Batimentos cardíacos irregulares podem comprometer o fluxo sanguíneo para o cérebro, causando tontura e desmaios.
- Pressão Alta ou Baixa Não Controlada: Ambas as condições podem levar a tontura, especialmente se houver variações significativas na pressão arterial.
3. Condições Neurológicas
- Enxaqueca Vestibular: Um tipo de enxaqueca que causa tontura ou vertigem, mesmo sem dor de cabeça, acompanhada de sensibilidade à luz e ao som. Os episódios podem durar horas ou dias.
- Esclerose Múltipla (EM): A tontura pode ser um sintoma da EM, especialmente quando há lesões no tronco cerebral que afetam o processamento do equilíbrio.
- Acidente Vascular Cerebral (AVC): Embora menos comum, um AVC pode causar tontura súbita e intensa, especialmente se acompanhada de outros sintomas neurológicos como dor de cabeça severa, fraqueza, alteração da fala ou visão.
4. Problemas Metabólicos e Endócrinos
- Hipoglicemia: Níveis baixos de açúcar no sangue, comuns em diabéticos ou em jejuns prolongados, podem causar tontura, fraqueza e suores.
- Diabetes: O controle inadequado do açúcar no sangue pode afetar nervos e vasos, levando à tontura.
- Disfunção da Tireoide: Tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo podem influenciar o metabolismo e o sistema cardiovascular, resultando em tontura.
- Desidratação e Anemia: A falta de líquidos ou de hemoglobina (anemia) compromete o transporte de oxigênio para o cérebro, causando tontura, fraqueza e cansaço.
5. Efeitos Colaterais de Medicamentos
Muitos medicamentos podem ter a tontura como efeito colateral. Entre eles, destacam-se alguns anti-hipertensivos, sedativos, antidepressivos, anticonvulsivantes e diuréticos. Se você notou o início da tontura após iniciar ou ajustar um medicamento, converse com seu médico.
6. Condições Psicológicas
Ansiedade, síndrome do pânico e depressão podem manifestar-se com sintomas físicos, incluindo tontura constante ou sensação de desequilíbrio. O estresse também é um fator agravante conhecido.
Quando a Tontura Constante É um Sinal de Alerta?
Embora a maioria das causas de tontura seja benigna, alguns sinais exigem avaliação médica imediata:
- Tontura frequente (mais de 3 vezes ao mês sem causa aparente) ou que cause grande desconforto.
- Acompanhada de dor de cabeça intensa e súbita.
- Associada a dor no peito, palpitações, falta de ar ou desmaios.
- Com fraqueza em um lado do corpo, dificuldade para falar ou alterações visuais.
- Se houver náuseas ou vômitos intensos e persistentes.
- Quando impede a realização de atividades diárias.
Diagnóstico e Tratamento
Ao procurar um médico – que pode ser um clínico geral inicialmente, um otorrinolaringologista (especialmente um otoneurologista) ou um neurologista –, o profissional realizará uma anamnese detalhada, perguntando sobre as características da tontura, sintomas associados, histórico médico e uso de medicamentos.
Exames complementares podem incluir exames de sangue (para verificar anemia, glicemia, função da tireoide), audiometria, exames vestibulares (como vectoeletronistagmografia) e, em alguns casos, exames de imagem como ressonância magnética do crânio.
O tratamento será sempre direcionado à causa subjacente. Pode envolver medicamentos (como antivertiginosos, antieméticos), reabilitação vestibular (fisioterapia específica para o equilíbrio), ajustes na dieta e estilo de vida, ou o tratamento da condição primária (diabetes, ansiedade, etc.). É importante ressaltar que o uso indiscriminado de "remédios para labirintite" sem um diagnóstico correto pode mascarar o problema e até atrasar a recuperação.
Conclusão
A tontura constante é um sintoma que merece atenção. Não a ignore, nem tente autodiagnosticar-se. Consultar um profissional de saúde é o primeiro e mais importante passo para identificar a causa, obter um diagnóstico preciso e iniciar o tratamento adequado. Sua qualidade de vida pode melhorar significativamente com a abordagem correta.