Probidade Administrativa: O Alicerce da Boa Gestão Pública

Probidade Administrativa: O Alicerce da Boa Gestão Pública

Em um cenário onde a confiança nas instituições públicas é constantemente debatida, compreender o conceito de probidade administrativa torna-se fundamental. Mais do que uma simples formalidade jurídica, a probidade é a espinha dorsal de uma gestão pública ética e transparente, essencial para o desenvolvimento de uma sociedade justa e para o bem-estar coletivo.

Mas, afinal, o que é probidade administrativa e qual sua real relevância?

Neste artigo, vamos desmistificar esse conceito, explorar seu arcabouço legal, os tipos de atos que a violam e as severas consequências para quem desrespeita os princípios da administração pública.

O Que é Probidade Administrativa?

A probidade administrativa pode ser definida como o dever do agente público de agir com honestidade, integridade, moralidade e lealdade às instituições no exercício de suas funções, sem tirar proveito dos poderes ou facilidades decorrentes de seu cargo para benefício próprio ou de terceiros . É um princípio que transcende a mera legalidade, exigindo uma conduta pautada pela ética e pela boa-fé, buscando sempre o interesse público .

Ela está intrinsecamente ligada ao princípio da moralidade administrativa, um dos pilares da Administração Pública, conforme expresso no artigo 37 da Constituição Federal de 1988 . Enquanto a legalidade exige que o administrador faça apenas o que a lei permite, a probidade (ou moralidade) demanda que essa ação seja feita de forma honesta, ética e para o fim público almejado . Um ato pode ser legal, mas, ainda assim, antiético ou imoral, configurando, portanto, improbidade .

A principal ferramenta legal para combater a improbidade administrativa no Brasil é a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, conhecida como Lei de Improbidade Administrativa (LIA) . Esta lei regulamenta o § 4º do artigo 37 da Constituição Federal, que prevê sanções para os atos de improbidade .

É importante destacar que a LIA passou por uma significativa reforma em 2021, com a promulgação da Lei nº 14.230/2021, que trouxe mudanças substanciais na interpretação e aplicação das penalidades . A alteração mais relevante foi a exigência de dolo (intenção deliberada) para a caracterização da maioria dos atos de improbidade, excluindo a modalidade culposa (sem intenção) em muitos casos .

Quem Pode Cometer Atos de Improbidade?

Os atos de improbidade podem ser praticados não apenas por agentes públicos (servidores, ocupantes de cargos eletivos, etc.), mas também por terceiros (pessoas físicas ou jurídicas) que, mesmo não possuindo vínculo direto com a administração, induzam, concorram para a prática do ato ou dele se beneficiem, direta ou indiretamente .

Tipos de Atos de Improbidade Administrativa

A LIA classifica os atos de improbidade em três categorias principais, detalhadas nos artigos 9º, 10 e 11 da lei. É fundamental entender que, após a reforma de 2021, a conduta deve ser dolosa (intencional) para a maioria desses atos .

1. Atos Que Importam Enriquecimento Ilícito (Art. 9º)

Ocorrem quando o agente público (ou terceiro beneficiado) obtém qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades públicas . Não é necessário que haja dano ao erário para a configuração, bastando a obtenção da vantagem ilícita .

Exemplos incluem receber propina, usar bens ou serviços públicos em benefício próprio, ou aceitar presentes de valor exorbitante em razão do cargo .

2. Atos Que Causam Prejuízo ao Erário (Art. 10)

São as condutas dolosas (ação ou omissão) que resultam em perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades públicas . Aqui, a intenção de causar o dano ao patrimônio público é crucial .

Englobam ações como fraude em licitações, liberação de verbas sem a observância das normas legais, ou permitir o uso indevido de bens públicos por particulares .

3. Atos Que Atentam Contra os Princípios da Administração Pública (Art. 11)

Referem-se a qualquer ação ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições . Diferentemente dos outros tipos, não exigem necessariamente dano ao erário ou enriquecimento ilícito . A lesividade relevante da conduta é um requisito .

Exemplos incluem a nomeação de parentes (nepotismo), a violação do sigilo funcional, ou qualquer ato que fira a impessoalidade ou a publicidade administrativa . A reforma de 2021 revogou muitos incisos que antes previam condutas genéricas ou culposas neste artigo, focando na necessidade do dolo específico .

Consequências da Improbidade Administrativa

A condenação por improbidade administrativa não se confunde com uma condenação criminal, sendo uma punição de natureza civil, com impactos significativos na vida do agente ímprobo . As sanções são proporcionais à gravidade da conduta e ao dano causado e podem incluir :

  • Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;
  • Ressarcimento integral do dano ao erário;
  • Perda da função pública (cargo, emprego ou mandato);
  • Suspensão dos direitos políticos (períodos que podem variar de 8 a 14 anos, dependendo da gravidade do ato) ;
  • Pagamento de multa civil (podendo chegar a valores significativos);
  • Proibição de contratar com o Poder Público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais, direta ou indiretamente.

A reforma da LIA em 2021 também trouxe a regra de que as sanções devem ser aplicadas com proporcionalidade, e a perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos não podem ser automáticas, exigindo fundamentação específica . Além disso, estabeleceu que a absolvição na esfera criminal pode estender seus efeitos à ação de improbidade administrativa, em certos casos .

A Importância da Probidade para a Gestão Pública

A probidade administrativa é mais do que um ideal; é um requisito prático para a boa governança. Ela garante que os recursos públicos sejam utilizados de forma correta, que os serviços sejam prestados com qualidade e que as decisões sejam tomadas visando ao interesse da coletividade .

A sua observância fortalece a confiança dos cidadãos nas instituições, promove a eficiência e a eficácia da máquina pública e contribui para um ambiente de maior segurança jurídica e estabilidade social. Sem probidade, a corrupção se prolifera, desviando verbas essenciais de áreas como saúde, educação e infraestrutura, prejudicando diretamente a população .

Conclusão

Entender o que é probidade administrativa e o que a cerca é essencial para qualquer cidadão que deseje uma gestão pública de qualidade. Ela é o dever de agir com retidão, honestidade e moralidade na condução dos assuntos do Estado, protegendo o patrimônio público e garantindo que o interesse coletivo prevaleça .

Apesar das complexidades jurídicas e das recentes reformas, o objetivo central da Lei de Improbidade Administrativa permanece inalterado: punir condutas desonestas e salvaguardar a ética e a integridade no serviço público. Como cidadãos, nosso papel inclui fiscalizar e cobrar dos gestores o cumprimento desses princípios, contribuindo para uma administração pública cada vez mais proba e eficiente.

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