O Que Pode Ser Azia Constante?

O Que Pode Ser Azia Constante?

A azia, ou pirose, é aquela sensação incômoda de queimação que se inicia na boca do estômago e pode subir pelo peito até a garganta. Embora episódios esporádicos de azia sejam comuns e geralmente ligados a excessos alimentares, a azia constante é um sinal de alerta do seu corpo que não deve ser ignorado. Quando a queimação se torna frequente, duradoura ou vem acompanhada de outros sintomas, ela pode indicar uma condição de saúde subjacente que exige atenção médica e tratamento adequado.

Neste artigo, vamos aprofundar as causas da azia constante, explicar como ela se manifesta e, mais importante, orientar sobre quando e como buscar ajuda profissional para encontrar alívio e tratar a raiz do problema.

Azia Constante: Um Sinal de Alerta Que Não Deve Ser Ignorado

A azia ocorre quando o conteúdo ácido do estômago retorna para o esôfago, o tubo que conecta a garganta ao estômago. O esôfago não possui a mesma proteção que o estômago contra esse ácido, e a exposição repetida causa irritação e inflamação, resultando na sensação de queimação. Quando essa ocorrência é frequente, estamos diante de um quadro de azia constante, que pode ser um sintoma de diversas condições.

Principais Causas da Azia Constante

As razões para a azia se tornar persistente são variadas e podem envolver desde fatores anatômicos e infecciosos até hábitos de vida. Compreender essas causas é o primeiro passo para buscar o tratamento adequado.

1. Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE)

É a causa mais comum de azia crônica. A DRGE ocorre quando o esfíncter esofágico inferior (EEI), um músculo em forma de anel que funciona como uma válvula entre o esôfago e o estômago, não funciona corretamente, permitindo que o conteúdo ácido do estômago retorne ao esôfago. Além da azia, pode causar dor no peito (muitas vezes confundida com problemas cardíacos), regurgitação, tosse seca crônica, rouquidão e sensação de um nódulo na garganta. É uma condição crônica que requer manejo contínuo.

2. Hérnia de Hiato

Essa condição ocorre quando uma parte do estômago se protrai através do diafragma para a cavidade torácica, pelo orifício (hiato) por onde passa o esôfago. A hérnia de hiato pode enfraquecer o EEI e facilitar o refluxo ácido, levando à azia constante. Pessoas com excesso de peso, que fumam ou que fazem grandes esforços físicos são mais propensas a desenvolver. Os sintomas são muito parecidos com os da DRGE, incluindo indigestão, especialmente ao deitar-se após comer.

3. Infecção por Helicobacter pylori (H. pylori)

A H. pylori é uma bactéria que pode colonizar o estômago e causar inflamação (gastrite), úlceras pépticas e, em casos mais raros, câncer de estômago. A infecção pode levar a sintomas como dor e queimação no estômago (azia), má digestão, inchaço e náuseas. O tratamento geralmente envolve antibióticos para erradicar a bactéria.

4. Gastrite e Úlceras Pépticas

A gastrite é a inflamação da mucosa que reveste o estômago. Pode ser causada por infecção por H. pylori, uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), consumo excessivo de álcool, estresse ou má alimentação. Os sintomas incluem dor e queimação na parte superior do abdômen, azia, náuseas e vômitos. Úlceras são feridas mais profundas na parede do estômago, esôfago ou duodeno (primeira parte do intestino delgado), frequentemente resultantes de gastrite não tratada. Elas podem causar dor intensa e, em casos graves, sangramento.

5. Esôfago de Barrett

É uma condição pré-cancerosa que pode se desenvolver em pessoas com DRGE crônica e não tratada. A exposição prolongada ao ácido do estômago causa uma alteração nas células do revestimento do esôfago, tornando-as mais semelhantes às células intestinais. Embora muitas pessoas com Esôfago de Barrett não apresentem sintomas específicos, a azia crônica é um fator de risco importante para o seu desenvolvimento.

6. Uso de Certos Medicamentos

Alguns medicamentos podem irritar o esôfago ou relaxar o EEI, causando ou agravando a azia. Exemplos incluem anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) como ibuprofeno e aspirina, alguns relaxantes musculares, medicamentos para pressão alta, asma, antidepressivos e anticoncepcionais.

7. Fatores Dietéticos e de Estilo de Vida

  • Alimentos e bebidas: alimentos gordurosos, picantes, cítricos, chocolate, café, bebidas alcoólicas e gaseificadas podem desencadear ou piorar a azia.
  • Grandes refeições: comer em excesso ou deitar-se logo após comer pode aumentar a pressão no estômago e facilitar o refluxo.
  • Obesidade: o excesso de peso exerce pressão sobre o abdômen, empurrando o conteúdo do estômago para cima.
  • Tabagismo: a nicotina relaxa o EEI, facilitando o refluxo.
  • Estresse: pode agravar a percepção da dor e influenciar a motilidade gástrica.
  • Gravidez: alterações hormonais e a pressão do útero sobre o estômago podem causar azia.

Quando Procurar Ajuda Médica?

Embora a azia ocasional possa ser gerenciada com mudanças no estilo de vida e antiácidos de venda livre, a azia constante ou acompanhada de certos sintomas exige avaliação médica urgente. Procure um gastroenterologista se você apresentar:

  • Azia mais de duas vezes por semana, de forma persistente.
  • Dor ou queimação intensa que não melhora com medicamentos comuns.
  • Dificuldade ou dor ao engolir (disfagia), ou sensação de alimento preso na garganta.
  • Náuseas, vômitos frequentes ou perda de peso inexplicada.
  • Vômito com sangue ou fezes escuras (semelhantes a borra de café), indicando sangramento gastrointestinal.
  • Dor no peito que se irradia para o braço, mandíbula ou pescoço (para descartar problemas cardíacos).
  • Rouquidão persistente ou tosse crônica sem causa aparente.

O Diagnóstico: Como Descobrir a Causa da Azia Constante?

O diagnóstico da azia constante envolve uma avaliação clínica detalhada e, muitas vezes, exames complementares:

  • Endoscopia Digestiva Alta: permite visualizar o esôfago, estômago e duodeno, identificar inflamações (esofagite, gastrite), úlceras, hérnias de hiato, e coletar biópsias para detecção de H. pylori ou Esôfago de Barrett.
  • pHmetria Esofágica de 24 horas: mede a quantidade de ácido que retorna ao esôfago durante um período, confirmando o refluxo e sua frequência.
  • Manometria Esofágica: avalia a função muscular do esôfago e do EEI, detectando problemas de motilidade ou enfraquecimento do esfíncter.
  • Testes para H. pylori: podem ser feitos por biópsia durante a endoscopia, teste respiratório com ureia ou exame de fezes.

Tratamento e Manejo da Azia Constante

O tratamento para azia constante depende da causa subjacente e da gravidade dos sintomas. Geralmente, envolve uma combinação de:

1. Mudanças no Estilo de Vida

  • Ajustes alimentares: evitar alimentos gatilho, comer refeições menores e mais frequentes, e não comer pelo menos 2-3 horas antes de deitar.
  • Perda de peso: se estiver acima do peso, perder alguns quilos pode reduzir significativamente os sintomas.
  • Elevar a cabeceira da cama: dormir com a parte superior do corpo elevada ajuda a gravidade a manter o ácido no estômago.
  • Evitar tabaco e álcool: ambos podem relaxar o EEI e irritar o esôfago.
  • Manejo do estresse: técnicas de relaxamento podem ser úteis.

2. Medicamentos

  • Antiácidos: proporcionam alívio rápido ao neutralizar o ácido estomacal, mas não tratam a causa subjacente.
  • Bloqueadores H2 (Cimetidina, Ranitidina – esta última retirada do mercado em alguns países devido a impurezas, Famotidina): reduzem a produção de ácido no estômago.
  • Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs - Omeprazol, Pantoprazol, Lansoprazol, Esomeprazol): são os mais potentes para reduzir a produção de ácido e são frequentemente prescritos para DRGE e úlceras. Devem ser usados sob orientação médica devido a possíveis efeitos a longo prazo.
  • Antibióticos: se a causa for H. pylori.

3. Cirurgia

Em casos selecionados de DRGE grave que não respondem ao tratamento clínico, hérnia de hiato significativa ou Esôfago de Barrett com displasia de alto grau, a cirurgia (como a fundoplicatura) pode ser uma opção para reforçar o EEI ou remover tecido afetado.

Conclusão

A azia constante não é apenas um incômodo; é um indicativo de que algo no seu sistema digestivo precisa de atenção. Ignorar esse sintoma pode levar a complicações mais sérias a longo prazo, como esofagite, úlceras ou, em casos mais graves, o Esôfago de Barrett e um aumento do risco de câncer esofágico. Não se automedique indefinidamente. A chave para o alívio duradouro e para a manutenção da sua saúde é um diagnóstico preciso e um plano de tratamento personalizado, elaborado por um especialista. Consulte um gastroenterologista para investigar a causa da sua azia constante e garantir o cuidado adequado.

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