Plagiocefalia: Entenda a “Síndrome da Cabeça Chata” em Bebês
A cabeça dos bebês, nos primeiros meses de vida, é incrivelmente maleável. Essa flexibilidade é essencial para o nascimento e para o rápido crescimento cerebral. No entanto, essa mesma característica a torna suscetível a pequenas deformações, e uma das mais comuns é a plagiocefalia, frequentemente conhecida como “síndrome da cabeça chata” ou “cabeça torta”. Estima-se que 12 a 20% dos lactentes possam apresentar algum grau de assimetria craniana, o que gera bastante preocupação para os pais.
Neste artigo, vamos desvendar tudo sobre a plagiocefalia, suas causas, como identificá-la e as melhores abordagens para tratamento e prevenção. Nosso objetivo é oferecer informações claras e confiáveis para que você se sinta seguro e bem informado sobre a saúde do seu bebê.
O Que Exatamente É a Plagiocefalia?
A plagiocefalia é uma condição em que a cabeça do bebê se apresenta achatada em uma ou mais áreas, resultando em uma assimetria no formato craniano. O termo deriva do grego “plagio” (oblíquo ou inclinado) e “cefalo” (cabeça).
Existem dois tipos principais de plagiocefalia:
- Plagiocefalia Posicional (ou Deformacional): É a forma mais comum. Ocorre devido à pressão externa constante em uma área do crânio, que ainda é muito maleável. Não há fechamento precoce das suturas cranianas (as “juntas” entre os ossos do crânio) e, geralmente, não afeta o desenvolvimento cerebral.
- Plagiocefalia Verdadeira (ou Craniossinostose): É mais rara e mais grave. Caracteriza-se pelo fechamento precoce e prematuro de uma ou mais suturas cranianas (craniossinostose). Isso impede o crescimento normal do crânio naquela área e pode, em alguns casos, afetar o desenvolvimento cerebral, exigindo intervenção cirúrgica.
Nosso foco principal neste artigo será a plagiocefalia posicional, por ser a forma mais comum e passível de intervenções não cirúrgicas.
Quais São as Principais Causas da Plagiocefalia Posicional?
Desde que a recomendação de colocar os bebês para dormir de barriga para cima se tornou padrão para prevenir a Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL), a incidência de plagiocefalia posicional aumentou. No entanto, essa posição é crucial para a segurança do bebê e deve ser mantida. As causas mais comuns estão ligadas à pressão exercida sobre o crânio maleável:
- Posição de Dormir: Permanecer muito tempo deitado de barriga para cima, com a cabeça sempre virada para o mesmo lado, é a principal causa.
- Tempo Excessivo em Dispositivos: Bebê-conforto, cadeirinhas de carro, balanços e carrinhos, quando usados por longos períodos, mantêm a cabeça do bebê apoiada na mesma posição.
- Torcicolo Congênito Muscular (TCM): É uma condição em que os músculos do pescoço são mais encurtados ou tensos, dificultando que o bebê vire a cabeça para um lado. Isso faz com que ele prefira apoiar a cabeça sempre na mesma posição.
- Posição Intrauterina: Pressões exercidas no crânio do bebê ainda dentro do útero, como em gestações múltiplas, fetos grandes ou posição pélvica, podem causar assimetrias ao nascer.
- Parto: A utilização de fórceps ou ventosas durante o parto também pode causar deformações temporárias.
- Prematuridade: Bebês prematuros têm ossos cranianos ainda mais maleáveis e podem passar mais tempo em incubadoras, predispondo à plagiocefalia.
Como Identificar: Sinais e Sintomas
Os sinais da plagiocefalia posicional são, na maioria das vezes, visíveis e podem ser notados pelos pais. É crucial estar atento nos primeiros meses de vida, quando o crânio do bebê cresce mais rapidamente e é mais suscetível a moldagens. Observe o seu bebê de cima e de diferentes ângulos para identificar:
- Achatamento em uma parte da região posterior da cabeça, que pode parecer como um paralelogramo.
- Assimetria facial: o rosto pode parecer assimétrico, com uma bochecha mais cheia ou um olho mais fechado que o outro.
- Desalinhamento das orelhas: uma orelha pode parecer mais para frente ou mais baixa que a outra.
- Testa proeminente do lado oposto ao achatamento.
- Dificuldade em mover a cabeça para um lado específico, que pode indicar torcicolo congênito.
É importante notar que a plagiocefalia posicional, na maioria dos casos, não causa sintomas neurológicos nem afeta o desenvolvimento psicomotor do bebê. No entanto, se não tratada, pode resultar em alterações estéticas permanentes e, em casos mais graves, levar a problemas funcionais como dificuldades de mastigação, desalinhamento dentário ou distúrbios visuais.
Diferenciando Plagiocefalia Posicional e Craniossinostose
A distinção entre esses dois tipos é fundamental para o tratamento adequado. Na plagiocefalia posicional, as suturas cranianas estão abertas e normais, e a deformidade é causada por pressão externa. Já na craniossinostose, há um fechamento precoce de uma ou mais suturas.
O diagnóstico diferencial é feito por um médico especialista (pediatra, neuropediatra ou neurocirurgião pediátrico) através de exame clínico. Em casos de dúvida ou suspeita de craniossinostose, pode ser solicitada uma tomografia computadorizada do crânio para confirmar o fechamento das suturas.
Diagnóstico e Abordagem Médica
Ao menor sinal de assimetria na cabeça do seu bebê, procure um pediatra. O diagnóstico é essencialmente clínico e, na maioria dos casos, o exame físico detalhado é suficiente para identificar a plagiocefalia posicional. A avaliação precoce é crucial, pois o sucesso do tratamento está diretamente ligado à idade do bebê, sendo mais eficaz nos primeiros meses de vida.
Opções de Tratamento para Plagiocefalia Posicional
O tratamento da plagiocefalia posicional geralmente envolve abordagens conservadoras, especialmente se iniciado precocemente:
- Mudanças de Posicionamento: A medida mais importante. Consiste em alternar a posição da cabeça do bebê durante o sono (sempre de barriga para cima, mas virando a cabeça para lados diferentes a cada soneca) e evitar o apoio prolongado na área achatada.
- Tummy Time (Tempo de Barriga): Colocar o bebê de bruços enquanto está acordado e sob supervisão. Isso alivia a pressão na parte de trás da cabeça, fortalece os músculos do pescoço, braços e costas, e estimula o desenvolvimento motor. Comece com poucos minutos e aumente gradualmente.
- Fisioterapia: Essencial se o bebê tiver torcicolo congênito. A fisioterapia ajuda a alongar e fortalecer os músculos do pescoço, melhorando a mobilidade da cabeça.
- Órtese Craniana (Capacete): Em casos moderados a graves, ou quando as medidas de reposicionamento e fisioterapia não são suficientes, o médico pode indicar o uso de um capacete ortopédico feito sob medida. O capacete redireciona o crescimento da cabeça para as áreas achatadas, aproveitando a maleabilidade do crânio. É geralmente recomendado para bebês entre 4 e 18 meses e usado por cerca de 20-23 horas por dia, por 2 a 6 meses.
- Cirurgia: É uma opção rara para plagiocefalia posicional e geralmente reservada para casos de craniossinostose, onde há fusão precoce das suturas cranianas.
É Possível Prevenir? Dicas Importantes
A prevenção é a melhor estratégia para a plagiocefalia posicional. Pequenas mudanças na rotina diária podem fazer uma grande diferença:
- Alterne a Posição no Berço: Mude a direção da cabeça do bebê a cada soneca e noite. Se ele tende a olhar para um ponto específico (como uma janela ou a porta), mude a posição do berço para incentivá-lo a virar a cabeça para o lado oposto.
- Pratique o Tummy Time Diariamente: Incentive o bebê a passar tempo de bruços enquanto acordado. É vital para o desenvolvimento e para evitar o achatamento.
- Limite o Tempo em Dispositivos: Reduza o tempo que o bebê passa em bebê-conforto, cadeirinhas e balanços. Prefira segurá-lo no colo ou usar um canguru/sling, o que também fortalece o vínculo.
- Estimule o Movimento da Cabeça: Posicione brinquedos e pessoas de forma a incentivar o bebê a virar a cabeça para ambos os lados.
- Amamentação e Alimentação: Alterne os lados durante a amamentação ou use diferentes posições para mamadeira, para variar os pontos de apoio da cabeça.
- Observe Sinais de Torcicolo: Se o bebê sempre preferir um lado, converse com o pediatra sobre a possibilidade de torcicolo congênito e a necessidade de fisioterapia.
Conclusão: A Importância da Detecção Precoce
A plagiocefalia posicional é uma condição comum e, embora geralmente não afete o desenvolvimento neurológico, a detecção e o tratamento precoces são fundamentais para garantir um resultado estético satisfatório e prevenir possíveis complicações funcionais. A cabeça do bebê cresce mais rapidamente nos primeiros 6 meses, tornando esse período a janela de ouro para intervenções eficazes.
Ao adotar medidas preventivas simples e buscar orientação médica ao primeiro sinal de assimetria, você estará ativamente contribuindo para a saúde e o bem-estar do seu pequeno, assegurando que ele cresça com uma cabeça simétrica e saudável.
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