O que é Cerclagem? Guia Completo para Gestantes

O que é Cerclagem? Guia Completo para Gestantes

O que é Cerclagem? Guia Completo para Gestantes

A gravidez é um período de grande expectativa e, para muitas mulheres, também de preocupações. Uma das condições que pode gerar apreensão é o risco de parto prematuro, e é nesse cenário que a cerclagem cervical surge como um procedimento fundamental. Se você ou alguém que você conhece recebeu a indicação ou está buscando entender o que é a cerclagem, este guia completo foi elaborado para esclarecer todas as suas dúvidas com expertise e cuidado.

O Que é a Cerclagem Cervical?

A cerclagem cervical é um procedimento cirúrgico que consiste na realização de suturas (pontos) no colo do útero para mantê-lo fechado e reforçado durante a gravidez. Ela atua como um “cinto de segurança” para o colo do útero, proporcionando o suporte mecânico necessário para sustentar a gestação até um estágio mais seguro para o nascimento do bebê.

O principal objetivo é prevenir o parto prematuro e abortos tardios que podem ocorrer devido ao enfraquecimento precoce do colo uterino.

Quando a Cerclagem é Indicada? (Principais Causas e Fatores de Risco)

É fundamental entender que a cerclagem não é um procedimento padrão para todas as gestantes, mas sim uma intervenção específica para casos que apresentam alto risco de parto prematuro ou perda gestacional.

Insuficiência Istmocervical (IIC)

A principal indicação para a cerclagem é a insuficiência istmocervical (IIC), uma condição médica na qual o colo do útero começa a dilatar e encurtar prematuramente durante a gravidez, geralmente de forma indolor. Isso ocorre porque o colo não é forte o suficiente para manter a gestação até o termo, aumentando o risco de aborto espontâneo tardio ou parto prematuro extremo. Muitas vezes, a IIC é diagnosticada após a mulher ter sofrido uma ou mais perdas gestacionais no segundo trimestre.

Outras Indicações e Fatores de Risco

  • Histórico de abortos tardios (após 12 semanas) ou partos prematuros (antes de 34 semanas), especialmente se associados à IIC.
  • Colo do útero curto: Comprimento cervical inferior a 25 milímetros, detectado em exames de ultrassom antes da 24ª semana de gestação, mesmo sem um histórico claro de IIC.
  • Dilatação cervical: Observação de dilatação do colo do útero no segundo trimestre durante exames de rotina ou clínicos.
  • Histórico de cirurgias cervicais: Procedimentos anteriores no colo do útero, como conização ou biópsias, que podem ter enfraquecido a região.
  • Malformações uterinas: Anomalias como útero bicorno, septado, unicorno ou didelfo, que podem comprometer a competência cervical.
  • Cerclagem de urgência: Realizada em situações críticas quando há dilatação do colo com exposição das membranas, mas sem contrações ativas, infecção intrauterina ou sangramento significativo, geralmente antes das 24-27 semanas de gestação.

É importante notar que a cerclagem não é recomendada em todos os casos. Existem contraindicações importantes, como a presença de infecção intrauterina, trabalho de parto ativo, ruptura prematura das membranas amnióticas, sangramento vaginal importante ou anomalias fetais incompatíveis com a vida. Além disso, geralmente não é indicada em gestações gemelares, exceto em casos muito específicos de IIC.

Tipos de Cerclagem e Como é Feita

A cerclagem é um procedimento cirúrgico realizado em ambiente hospitalar, geralmente sob anestesia (geral, raquidiana ou epidural), para garantir o conforto e a segurança da paciente. Existem duas principais abordagens:

Cerclagem Transvaginal

É a técnica mais comum e menos invasiva, realizada através da vagina.

  • Técnica de McDonald: É a mais utilizada devido à sua simplicidade. Consiste na aplicação de uma ou mais suturas em forma de “bolsa de fumo” ao redor do colo uterino, o mais alto possível, sem a necessidade de dissecção da bexiga ou do reto.
  • Técnica de Shirodkar: Esta abordagem é um pouco mais complexa e envolve pequenas incisões na mucosa cervical para posicionar a sutura mais próxima do orifício interno do colo.

A cerclagem transvaginal é geralmente realizada entre 12 e 14 semanas de gestação, ou até 24 semanas em casos de emergência. A remoção dos pontos é feita por volta das 36-37 semanas de gestação, em ambiente de consultório e, geralmente, sem necessidade de anestesia, permitindo que o parto vaginal ocorra normalmente.

Cerclagem Transabdominal

Esta é uma abordagem mais invasiva, realizada por meio de uma incisão no abdômen (laparotomia) ou por laparoscopia. É indicada em casos específicos, como quando a cerclagem transvaginal falhou em gestações anteriores ou quando o colo uterino está muito curto, cicatrizado ou ausente. Nesse tipo de cerclagem, a sutura geralmente não é removida e o parto deve ser obrigatoriamente por cesariana.

Pós-Operatório e Cuidados Essenciais

Após o procedimento, a recuperação inicial envolve o monitoramento dos sinais vitais da mãe e do feto. É fundamental seguir todas as orientações médicas para garantir uma gestação saudável:

  • Repouso: Um período de repouso relativo ou atividade reduzida é frequentemente aconselhado, especialmente na primeira semana após o procedimento. O repouso absoluto raramente é necessário.
  • Restrições de Atividades: É comum a recomendação de evitar relações sexuais por um período, exercícios físicos intensos, levantar pesos e fazer grandes esforços, principalmente nos primeiros dias após a cirurgia.
  • Monitoramento: Consultas de pré-natal e exames de ultrassom regulares são essenciais para monitorar a eficácia da cerclagem e o bem-estar do feto.
  • Sintomas Normais: Nos dias seguintes à cirurgia, é normal experimentar uma leve cólica abdominal e um pequeno sangramento vaginal.
  • Sinais de Alerta: Procure atendimento médico imediatamente se apresentar dor abdominal intensa, hemorragia, perda de líquido amniótico, febre ou contrações uterinas, pois podem indicar complicações.

Riscos e Complicações

Embora a cerclagem seja geralmente considerada um procedimento seguro, como qualquer intervenção cirúrgica, ela apresenta alguns riscos e possíveis complicações. É crucial discuti-los com seu médico antes de tomar uma decisão:

  • Infecção: Há um risco de infecção na área do colo do útero ou no útero (infecção intrauterina), afetando a mãe e o feto.
  • Ruptura prematura das membranas: O procedimento pode, em alguns casos, levar à ruptura da bolsa amniótica.
  • Sangramento vaginal.
  • Parto prematuro: Embora o objetivo seja prevenir, em casos raros, o procedimento pode induzir contrações uterinas ou não ser eficaz.
  • Laceração do colo do útero.
  • Reação adversa à anestesia.
  • Deslocamento da sutura ou falha do procedimento, cicatrização inadequada do colo.

Eficácia da Cerclagem

A cerclagem é considerada uma medida eficaz para reduzir significativamente os riscos de complicações obstétricas e prolongar a gestação em mulheres com insuficiência istmocervical ou colo do útero curto. Em casos de cerclagem de emergência, estudos mostram que o procedimento pode prolongar a gestação em média em cerca de 8 semanas, na maior parte dos casos. A taxa de gravidez bem-sucedida com a cerclagem pode variar entre 85% e 90%, especialmente quando a indicação é precisa e os cuidados pós-operatórios são seguidos.

Cerclagem e o Parto

Para a cerclagem transvaginal, os pontos são removidos por volta da 36ª ou 37ª semana de gestação, ou antes, se houver sinais de trabalho de parto prematuro. Essa remoção permite que o parto vaginal ocorra normalmente, e a cerclagem não interfere na indicação do tipo de parto. Já no caso da cerclagem transabdominal, os pontos não são retirados e o parto subsequente será obrigatoriamente por cesariana.

Considerações Finais

A cerclagem cervical é um procedimento que pode fazer uma diferença significativa na vida de gestantes com risco de parto prematuro. É uma medida de proteção que oferece esperança e aumenta as chances de levar a gravidez a termo. No entanto, a decisão de realizá-la deve ser sempre tomada em conjunto com seu médico, após uma avaliação criteriosa do seu histórico, exames e condições atuais de saúde. O acompanhamento médico regular e a adesão às recomendações são cruciais para o sucesso da gestação.

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