Até que idade o pediatra atende?

É uma dúvida comum para muitos pais e adolescentes: até que idade, afinal, o pediatra é o profissional responsável pela saúde de um indivíduo? O senso comum pode sugerir que a pediatria se restringe à infância mais tenra, mas a realidade é que o acompanhamento pediátrico se estende por um período muito mais longo, abrangendo toda a adolescência e, em certos casos, até mesmo o início da vida adulta. Compreender essa transição é fundamental para garantir a continuidade de um cuidado médico adequado.
Qual é a Idade Oficial para o Atendimento Pediátrico no Brasil?
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que o acompanhamento pediátrico ocorra até os 18 anos de idade. Essa diretriz é amplamente aceita e se baseia na compreensão de que a pediatria não se limita apenas aos primeiros anos de vida, mas acompanha todas as fases do desenvolvimento humano, desde o nascimento até a transição para a idade adulta .
- O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (Lei nº 8.069/90) considera criança a pessoa até 12 anos incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos .
- A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde definem a adolescência como a faixa etária dos 10 aos 20 anos incompletos .
É importante ressaltar, contudo, que essa idade pode ser flexibilizada. Em alguns casos, especialmente quando há doenças crônicas ou condições de saúde complexas iniciadas na infância, pediatras podem continuar acompanhando o paciente até os 21 anos . Além disso, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a SBP já reconhecem a assistência a adolescentes como parte do exercício da Pediatria, com a Resolução CFM nº 1634/2002 e a inclusão do tema “Adolescência” nos programas de residência .
Cabe também às instituições de saúde (hospitais e clínicas) definirem seus próprios regimentos internos quanto ao limite superior de idade para atendimento pediátrico, considerando suas condições estruturais e recursos humanos .
Por Que Existe um Limite de Idade para o Pediatra?
A pediatria é uma especialidade que se dedica ao cuidado do ser humano em seu ciclo de crescimento e desenvolvimento, com peculiaridades biopsicossociais que demandam uma compreensão científica específica . A adolescência, em particular, é um período de intensas transformações:
- Mudanças hormonais e físicas marcantes.
- Desenvolvimento emocional e psicológico que molda a identidade.
- Questões sociais, como sexualidade, uso de substâncias e saúde mental, que exigem um olhar especializado e uma abordagem diferenciada .
Embora o pediatra esteja apto a lidar com essas questões, a transição para a medicina do adulto ocorre à medida que o jovem consolida seu crescimento e ganha autonomia para cuidar da própria saúde . É um processo natural que reflete a evolução do indivíduo.
A Importância da Transição: Do Pediatra ao Médico do Adulto
A saída do pediatra não deve ser um corte abrupto, mas sim um processo bem planejado, gradual e individualizado, focado em preparar o jovem para assumir a responsabilidade por sua própria saúde na vida adulta . A pediatria, tradicionalmente, é centrada na criança e na família, com o pediatra atuando como um gestor de saúde holístico. Já a medicina de adultos exige maior autonomia do paciente e pode ser mais focada em sistemas de órgãos específicos .
Para adolescentes com doenças crônicas, essa transição é ainda mais crítica e complexa, exigindo um planejamento cuidadoso e, idealmente, uma equipe multidisciplinar . É comum que haja resistência por parte do jovem em deixar o pediatra que o acompanha desde pequeno, mas é fundamental que essa mudança ocorra de forma tranquila para garantir a continuidade dos cuidados .
A Figura do Hebiatra
Dentro da pediatria, existe uma subespecialidade dedicada exclusivamente à saúde do adolescente e do adulto jovem: a Hebiatria. O hebiatra é o profissional ideal para acompanhar essa fase de transição, pois possui conhecimento aprofundado sobre o desenvolvimento físico, emocional e social dos adolescentes, atuando como um intermediário entre a pediatria e a medicina de adultos .
Quando Iniciar a Conversa sobre a Transição?
O ideal é que a discussão sobre a transição para um médico de adultos comece bem antes dos 18 anos, por volta dos 14 ou 15 anos. Isso permite que o adolescente se envolva na decisão, expresse suas dúvidas e comece a desenvolver autonomia sobre sua própria saúde. O pediatra atual é a melhor pessoa para orientar essa conversa e indicar o momento certo, considerando o estágio de desenvolvimento físico e psicossocial do jovem .
Dicas para uma Transição Suave
- Converse abertamente com o pediatra sobre a transição. Ele pode recomendar profissionais ou especialidades adequadas.
- Envolva o adolescente na escolha do novo médico. Sua participação é crucial para a adesão e o sucesso da transição.
- Garanta que o histórico médico completo seja transferido para o novo profissional, incluindo vacinação, doenças pregressas e exames importantes.
- Incentive o jovem a fazer perguntas, entender suas condições de saúde e participar ativamente das decisões médicas.
- Considere um clínico geral como o primeiro ponto de contato para a saúde adulta, pois ele pode coordenar e encaminhar para especialistas, se necessário .
Conclusão
A idade em que o pediatra atende, embora tenha uma recomendação geral de até 18 anos pela SBP, é uma questão que envolve flexibilidade, as necessidades individuais de cada jovem e as políticas de cada instituição de saúde. O mais importante é que a transição do cuidado pediátrico para o cuidado adulto seja um processo contínuo e bem planejado, garantindo que o adolescente receba a atenção médica adequada para suas necessidades em constante mudança. Falar abertamente com o pediatra, envolver o jovem e buscar um profissional que o acompanhe nessa nova fase são passos essenciais para uma saúde contínua e de qualidade.