Excesso de Cera no Ouvido: Entenda as Causas e Como Agir

Excesso de Cera no Ouvido: Entenda as Causas e Como Agir

A cera de ouvido, cientificamente conhecida como cerúmen, é uma substância natural e essencial para a saúde do nosso sistema auditivo. Longe de ser apenas uma “sujeira” a ser removida, ela desempenha papéis cruciais de proteção e lubrificação. No entanto, quando sua produção ou eliminação natural é comprometida, pode ocorrer um acúmulo excessivo, gerando desconforto e até problemas auditivos.

Com minha experiência, percebo que muitos pacientes chegam ao consultório sem entender por que estão com excesso de cera, e é comum atribuírem o problema à falta de higiene. Contudo, na maioria dos casos, as causas são mais complexas e frequentemente relacionadas a hábitos ou características individuais. Vamos explorar os principais fatores que levam ao acúmulo de cerúmen.

A Função Essencial do Cerúmen

Antes de falarmos sobre o excesso, é vital compreender que o cerúmen não é um inimigo. Ele é uma mistura de secreções de glândulas sebáceas e ceruminosas, células mortas da pele, pelos e poeira, que atua como:

  • Proteção: Cria uma barreira física contra poeira, sujeira, insetos e outros corpos estranhos.
  • Lubrificação: Mantém a pele do canal auditivo hidratada, prevenindo o ressecamento e a coceira.
  • Antimicrobiano: Possui propriedades antibacterianas e antifúngicas que ajudam a combater infecções.
  • Autolimpeza: O movimento da mandíbula (ao falar ou mastigar) e o crescimento da pele do canal auditivo auxiliam na migração natural do cerúmen para fora do ouvido.

Principais Causas do Excesso de Cera no Ouvido

O excesso de cera, ou cerúmen impactado, ocorre quando há um desequilíbrio entre a produção e a eliminação do cerúmen, levando ao seu acúmulo e, por vezes, à formação de um “tampão” que obstrui o canal auditivo. Abaixo, detalho as causas mais comuns:

1. Fatores Genéticos e Predisposição Individual

Algumas pessoas simplesmente produzem mais cera do que outras, ou o tipo de cera que produzem é mais espesso e seco, dificultando sua saída natural. Essa predisposição pode ser genética.

2. Anatomia do Canal Auditivo

Canais auditivos naturalmente mais estreitos, tortuosos ou com excesso de pelos podem dificultar a migração da cera para fora.

3. Uso Inadequado de Hastes Flexíveis (Cotonetes) e Outros Objetos

Essa é, talvez, a causa mais comum de cerúmen impactado. Ao invés de remover a cera, as hastes flexíveis (cotonetes), grampos, tampas de caneta ou outros objetos empurram o cerúmen mais profundamente no canal auditivo, compactando-o contra o tímpano e dificultando a saída natural.

4. Uso Frequente de Fones de Ouvido, Protetores Auriculares e Aparelhos Auditivos

Esses dispositivos, especialmente os intra-auriculares, podem bloquear a saída natural da cera e empurrá-la para dentro. Além disso, a presença constante desses objetos pode estimular as glândulas a produzir mais cerúmen como um mecanismo de proteção, agravando o problema.

5. Idade

Com o envelhecimento, as glândulas ceruminosas tendem a produzir uma cera mais seca e rígida, e os mecanismos de autolimpeza do ouvido podem se tornar menos eficazes. Isso torna os idosos mais propensos ao acúmulo e impactação.

6. Condições de Pele

Doenças de pele como eczema, dermatite seborreica ou psoríase no canal auditivo podem aumentar a descamação da pele, que se mistura à cera, contribuindo para o acúmulo.

7. Ambientes com Poeira ou Sujeira

Trabalhar ou viver em ambientes com muita poeira ou partículas suspensas no ar pode levar a uma maior produção de cerúmen como defesa, além de facilitar sua adesão e compactação.

8. Produção Exagerada por Glândulas Ceruminosas

Em alguns casos, as glândulas simplesmente são hiperativas e produzem uma quantidade excessiva de cera, o que o sistema de autolimpeza não consegue dar conta.

Quando Procurar Ajuda Médica?

O excesso de cera pode causar sintomas como diminuição da audição, sensação de ouvido entupido, dor, zumbido, coceira e tontura. Se você apresentar algum desses sinais, ou notar acúmulo visível de cera que não se resolve naturalmente, é fundamental procurar um otorrinolaringologista.

A auto-remoção, especialmente com cotonetes ou objetos pontiagudos, pode piorar a situação, empurrando a cera mais para dentro, causando lesões no canal auditivo ou até perfuração do tímpano.

O profissional poderá realizar uma otoscopia (exame visual do ouvido) para avaliar a quantidade e a localização da cera. Ele indicará o método mais seguro e eficaz para a remoção, que pode incluir o uso de medicamentos para amolecer a cera, irrigação ou remoção mecânica com instrumentos específicos.

Conclusão

O excesso de cera no ouvido é uma condição comum, mas que, na maioria das vezes, pode ser gerenciada com o conhecimento correto e a assistência profissional. Lembre-se que seu ouvido é um órgão autolimpante e, em vez de tentar remover a cera por conta própria, o mais seguro é entender as causas e procurar um especialista quando os sintomas surgirem.

Cuidar da sua saúde auditiva é fundamental para o bem-estar geral, e isso inclui respeitar os processos naturais do corpo e buscar orientação qualificada quando necessário.

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