Dor no Ombro: O Que Pode Ser? Um Guia Completo por Especialista

A dor no ombro é uma queixa extremamente comum, capaz de afetar pessoas de todas as idades e estilos de vida. Desde atletas que exigem muito da articulação até indivíduos com trabalhos sedentários ou idosos, a sensação de desconforto ou incapacidade funcional no ombro pode ser debilitante e impactar significativamente a qualidade de vida. Mas, afinal, o que pode estar por trás dessa dor persistente ou aguda? Como especialista na área, meu objetivo é desmistificar as causas da dor no ombro, oferecendo um guia abrangente que não apenas elucide as possíveis origens do problema, mas também forneça insights práticos sobre o diagnóstico e as abordagens de tratamento. Prepare-se para uma imersão profunda neste tema complexo.
A Complexidade do Ombro: Por Que Dói Tanto?
Para entender a dor, precisamos primeiro apreciar a anatomia. O ombro é uma das articulações mais complexas e móveis do corpo humano. Essa mobilidade excepcional, no entanto, vem com um custo: maior instabilidade e vulnerabilidade a lesões. Ele é composto por três ossos principais (úmero, escápula e clavícula) e é estabilizado por um emaranhado de músculos, tendões e ligamentos.
- Articulação Glenoumeral: A principal articulação, onde a cabeça do úmero se encaixa na cavidade glenoide da escápula.
- Manguito Rotador: Um grupo de quatro tendões (supraespinhal, infraespinhal, redondo menor e subescapular) que envolvem a articulação, responsáveis pela rotação e elevação do braço.
- Bolsa (Bursa): Pequenas bolsas cheias de líquido que agem como amortecedores, reduzindo o atrito entre tendões, músculos e ossos.
Qualquer problema em uma dessas estruturas pode gerar dor e comprometer a função do ombro. A seguir, exploraremos as causas mais frequentes.
As Causas Mais Comuns da Dor no Ombro
A grande maioria das dores no ombro está associada a alguns problemas chave. Conhecê-los é o primeiro passo para um diagnóstico preciso.
1. Lesões do Manguito Rotador: Tendinite, Bursite e Rupturas
São, sem dúvida, as causas mais frequentes. Tendinite (inflamação dos tendões) e bursite (inflamação da bursa) geralmente ocorrem por uso excessivo, movimentos repetitivos ou má postura. Se não tratadas, podem evoluir para rupturas (parciais ou completas) dos tendões, que podem ser traumáticas (por queda) ou degenerativas (pelo desgaste ao longo do tempo).
- Sintomas comuns: Dor ao levantar o braço acima da cabeça, ao dormir sobre o ombro afetado, fraqueza no braço e dificuldade para realizar tarefas simples como pentear o cabelo ou vestir uma camisa.
2. Síndrome do Impacto (ou Impacto Subacromial)
Ocorre quando os tendões do manguito rotador ou a bursa ficam comprimidos entre a cabeça do úmero e o acrômio (parte da escápula) durante movimentos de elevação do braço. Isso pode ser causado por fatores anatômicos (como um acrômio em forma de gancho), má postura ou fraqueza muscular.
- Sintomas comuns: Dor que piora com movimentos acima da cabeça, muitas vezes com um arco de dor específico (entre 60 e 120 graus de elevação).
3. Capsulite Adesiva (Ombro Congelado)
Condição caracterizada por dor e rigidez progressiva da articulação do ombro. Ocorre um espessamento e contração da cápsula articular. É mais comum em mulheres entre 40 e 60 anos e em pessoas com diabetes ou doenças da tireoide.
- Fases: A dor começa (fase de congelamento), a rigidez se instala (fase congelada) e, finalmente, a melhora gradual (fase de descongelamento), que pode levar meses ou anos.
4. Artrose (Osteoartrite) do Ombro
É o desgaste da cartilagem que reveste as superfícies ósseas da articulação. Mais comum na articulação acromioclavicular (entre o acrômio e a clavícula), mas pode afetar também a glenoumeral. Geralmente associada ao envelhecimento, uso excessivo ou traumas prévios.
- Sintomas comuns: Dor que piora com a atividade e melhora com o repouso, rigidez matinal, crepitação (estalidos) ao mover o ombro e diminuição da amplitude de movimento.
5. Luxação e Subluxação do Ombro
A luxação ocorre quando a cabeça do úmero sai completamente da cavidade glenoide, geralmente devido a um trauma. A subluxação é uma saída parcial. Ambas causam dor intensa e podem levar à instabilidade crônica se não tratadas corretamente.
- Sintomas comuns: Dor aguda e súbita, deformidade visível (na luxação), sensação de “saída do lugar” e incapacidade de mover o braço.
6. Tendinite Calcária
Caracterizada pelo acúmulo de depósitos de cálcio nos tendões do manguito rotador, geralmente no supraespinhal. Pode causar dor intensa, especialmente durante a reabsorção do cálcio pelo corpo.
Causas Menos Comuns, Mas Importantes de Considerar
Nem toda dor no ombro se origina no ombro. Algumas condições podem ter sua origem em outras partes do corpo e irradiar para a região.
1. Problemas na Coluna Cervical (Pescoço)
Hérnias de disco, osteoartrite ou estreitamento do canal espinhal na região cervical podem comprimir nervos que se estendem até o ombro e braço, causando dor referida, formigamento ou dormência.
2. Doenças Sistêmicas
Condições como artrite reumatoide, fibromialgia, polimialgia reumática e até mesmo problemas cardíacos (infarto pode irradiar dor para o ombro esquerdo) ou vesícula biliar (dor referida para o ombro direito) podem manifestar dor no ombro.
3. Tumores
Embora raro, tumores benignos ou malignos na região do ombro ou em órgãos próximos que metastatizam para a região podem causar dor. Nesses casos, a dor geralmente é constante, progressiva e não alivia com repouso.
Quando Procurar Ajuda Médica Imediata?
A maioria das dores no ombro não é uma emergência, mas alguns sinais de alerta exigem atenção médica imediata:
- Dor intensa e súbita após um trauma (queda, acidente).
- Deformidade visível no ombro ou braço.
- Incapacidade total de mover o braço ou levá-lo acima da cabeça.
- Formigamento, dormência ou fraqueza que se estende para o braço e mão.
- Dor no ombro acompanhada de dor no peito, falta de ar ou suores (pode indicar um problema cardíaco).
- Calor, vermelhidão ou inchaço no ombro.
O Caminho para o Diagnóstico e Tratamento
Um diagnóstico preciso é a pedra angular para um tratamento eficaz. Ele geralmente envolve uma combinação de etapas.
1. Avaliação Clínica Detalhada
Seu médico realizará um histórico completo da dor (quando começou, o que a piora/melhora, etc.) e um exame físico detalhado, testando a amplitude de movimento, a força e realizando manobras específicas para identificar a origem da dor. Este é, muitas vezes, o passo mais importante.
2. Exames Complementares
- Raio-X: Útil para avaliar a estrutura óssea, identificar fraturas, artrose ou calcificações.
- Ultrassonografia: Excelente para avaliar tendões e bursas, identificando inflamações ou rupturas do manguito rotador.
- Ressonância Magnética (RM): Oferece a visão mais detalhada dos tecidos moles (músculos, tendões, ligamentos, cápsula articular) e é crucial para diagnosticar lesões complexas.
3. Opções de Tratamento
O tratamento dependerá da causa e gravidade da dor. As abordagens podem incluir:
- Medicações: Analgésicos, anti-inflamatórios (orais ou tópicos) para controle da dor e inflamação.
- Repouso e Modificação de Atividades: Evitar movimentos que pioram a dor, mas sem imobilização prolongada, que pode levar a rigidez.
- Fisioterapia: Fundamental para restaurar a amplitude de movimento, fortalecer os músculos do ombro e escápula, corrigir a postura e reeducar os movimentos.
- Infiltrações: Injeções de corticoides e/ou anestésicos podem ser usadas para aliviar a dor e a inflamação, especialmente em casos de bursite ou tendinite severa. O uso deve ser criterioso.
- Cirurgia: Reservada para casos de rupturas graves do manguito rotador que não respondem ao tratamento conservador, luxações recorrentes, artrose avançada ou quando há indicação clara para reparo ou reconstrução.
Conclusão: Não Ignore a Dor no Ombro
A dor no ombro é um sintoma, não uma doença. Sua origem pode ser multifatorial e, muitas vezes, complexa. Ignorar a dor ou tentar "curar-se" sem um diagnóstico adequado pode levar ao agravamento da condição e a tratamentos mais longos e invasivos. Como um especialista que lida diariamente com essas questões, reforço: a busca por um profissional qualificado é o passo mais inteligente e seguro. Um médico ortopedista ou fisioterapeuta poderá identificar a causa exata de sua dor e traçar um plano de tratamento personalizado, visando não apenas o alívio dos sintomas, mas a recuperação completa da função do seu ombro. Cuide-se e não subestime o valor de uma avaliação profissional.
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