Doença de Peyronie: Guia Completo para Entender, Diagnosticar e Tratar
A Doença de Peyronie é uma condição que afeta milhares de homens globalmente, mas que muitas vezes permanece um tabu, obscurecida pela falta de informação e pelo estigma associado à saúde sexual masculina. Como especialista com anos de experiência clínica, meu objetivo aqui é desmistificar essa condição, oferecendo um guia completo e empático para que você possa entender o que é, como identificá-la e, principalmente, como abordá-la com confiança e conhecimento.
O que é a Doença de Peyronie?
A Doença de Peyronie é caracterizada pelo desenvolvimento de uma placa de tecido fibroso (uma espécie de cicatriz) no interior do pênis. Essa placa, que é não cancerosa, impede que a túnica albugínea (a camada de tecido que envolve os corpos cavernosos e permite a ereção) se expanda uniformemente durante a ereção. O resultado é uma curvatura, indentação, encurtamento ou outras deformidades no pênis ereto.
Embora a causa exata ainda não seja totalmente compreendida, acredita-se que a doença comece com pequenos traumas ou lesões repetidas no pênis (muitas vezes imperceptíveis), que levam a um processo de cicatrização anormal. Fatores genéticos e certas condições autoimunes também podem estar associados.
Sintomas e Diagnóstico
Os sinais da Doença de Peyronie podem surgir de forma gradual ou repentina. Estar atento a eles é crucial para um diagnóstico precoce e um tratamento mais eficaz.
Os Sinais Mais Comuns
- Dor: No início, muitos homens sentem dor no pênis, tanto em repouso quanto durante a ereção. Essa dor geralmente diminui com o tempo.
- Curvatura Peniana: O sintoma mais característico, que pode ser para cima, para baixo ou para os lados. A curvatura pode ser leve ou severa, dificultando ou impossibilitando a relação sexual.
- Nódulos ou Placas: Pode-se sentir um caroço ou uma área mais endurecida sob a pele do pênis, onde a placa está se formando.
- Encurtamento ou Estreitamento: O pênis pode parecer mais curto, ou apresentar uma forma de “garrafa” ou “ampulheta” quando ereto.
- Disfunção Erétil: Dificuldade em obter ou manter uma ereção suficiente para a atividade sexual, seja devido à dor, à curvatura ou a danos nos vasos sanguíneos.
Como é Feito o Diagnóstico?
O diagnóstico é feito por um urologista, através da história clínica do paciente, exame físico e, em alguns casos, exames complementares. O médico pode solicitar ao paciente que traga fotos do pênis ereto para avaliar a curvatura. Um ultrassom peniano com injeção de substância para induzir a ereção pode ser realizado para mapear a placa e avaliar o fluxo sanguíneo.
Fases da Doença de Peyronie
A Doença de Peyronie geralmente evolui em duas fases distintas:
Fase Aguda (Inflamatória)
Esta fase é caracterizada por dor no pênis (especialmente durante a ereção) e pelo surgimento ou piora progressiva da curvatura. Dura geralmente de 6 a 18 meses, período em que a placa está se formando e se expandindo. É um momento crucial para intervenção médica, pois algumas terapias podem ser mais eficazes nesta fase.
Fase Crônica (Estabilizada)
Após a fase aguda, a dor geralmente diminui ou desaparece, e a curvatura ou deformidade se estabiliza. A placa pode se calcificar, tornando-se mais rígida. Nesta fase, o foco do tratamento se volta para a correção da deformidade e a recuperação da função sexual.
Opções de Tratamento
As opções de tratamento variam conforme a fase da doença, a gravidade dos sintomas e o impacto na vida do paciente. É fundamental discutir todas as possibilidades com seu urologista.
Abordagens Não Cirúrgicas
- Medicações Orais: Embora muitas já tenham sido testadas (como vitamina E, pentoxifilina), a eficácia é frequentemente limitada e variável entre os pacientes. Não há uma "pílula mágica" para a Peyronie. A fosfodiesterase-5 (Tadalafila, Sildenafila) pode ajudar com a disfunção erétil associada.
- Injeções Intralesionais: A injeção de substâncias diretamente na placa pode ajudar a quebrá-la ou a reduzir a inflamação. A colagenase de Clostridium histolyticum (Xiaflex®) é o único tratamento injetável aprovado por agências reguladoras para Peyronie em alguns países, e age degradando o colágeno da placa. Outras substâncias como verapamil e interferon também são usadas, com resultados variados.
- Terapia de Tração Peniana: Dispositivos que aplicam uma força de tração constante no pênis podem ajudar a esticá-lo e reduzir a curvatura, especialmente na fase aguda ou em conjunto com outras terapias.
- Dispositivos de Vácuo (VEDs): Podem ajudar a melhorar a ereção e, em alguns casos, a remodelar o pênis, mas seu uso deve ser monitorado por um médico.
Tratamentos Cirúrgicos
A cirurgia é geralmente reservada para casos em que a doença está estabilizada (fase crônica), a curvatura é significativa e impacta a função sexual, e as abordagens não cirúrgicas falharam.
- Plicatura: Consiste em suturar o lado mais longo do pênis (o oposto da curvatura) para encurtá-lo e, assim, retificá-lo. É indicada para curvaturas moderadas e geralmente resulta em um leve encurtamento do pênis, que pode ser compensado em alguns casos.
- Enxerto: Nesta técnica, a placa é removida ou incisada, e o espaço é preenchido com um enxerto (que pode ser do próprio paciente ou sintético). É usada para curvaturas mais severas ou em casos de constrição peniana, com o objetivo de preservar ou restaurar o comprimento do pênis.
- Implante de Prótese Peniana: Para homens com Peyronie e disfunção erétil severa que não responde a outros tratamentos. A prótese retifica o pênis e resolve a questão da ereção simultaneamente.
Impacto Psicossocial e Abordagem Integral
É fundamental reconhecer que a Doença de Peyronie não afeta apenas o corpo, mas também a saúde mental e emocional. Muitos homens experimentam ansiedade, depressão, baixa autoestima e dificuldades nos relacionamentos. Uma abordagem integral, que inclua suporte psicológico e a comunicação aberta com o parceiro, é tão importante quanto o tratamento físico.
Prevenção e Perspectivas Futuras
Devido à natureza complexa e multifatorial da Peyronie, não há métodos comprovados para sua prevenção específica. No entanto, evitar traumas penianos excessivos e buscar atendimento médico para disfunções eréteis e outras condições urológicas pode contribuir para a saúde peniana geral.
A pesquisa na área continua avançando, buscando novas terapias menos invasivas e mais eficazes. A terapia com ondas de choque de baixa intensidade, por exemplo, é uma área de estudo, embora ainda não haja consenso sobre sua eficácia rotineira.
Conclusão
A Doença de Peyronie é uma condição real, que merece atenção e tratamento. Não é uma sentença, mas um desafio que, com o acompanhamento médico adequado, pode ser superado. Se você suspeita ter Peyronie, não hesite em procurar um urologista. O conhecimento é o primeiro passo para a recuperação, e existem opções para ajudar você a retomar sua qualidade de vida e bem-estar sexual. Lembre-se, você não está sozinho, e buscar ajuda é um sinal de força, não de fraqueza.
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